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Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

Pelos passos de Fernando Pessoa em Lisboa

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 Com Costa Brochado, no Martinho da Arcada

 

«Falaram-me os homens em humanidade,

Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.

Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si.

Cada um separado do outro por um espaço sem homens».

Alberto Caeiro

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Texto e Fotos: Ana Clara

Fernando Pessoa tornou-se, até à luz dos nossos dias, o «poeta português e intemporal», como lhe chamou Almada Negreiros. Falar dele é sempre um exercício quase atroz para mim. Porque sou apenas uma amante devoradora da sua obra, mas não uma estudiosa. Porque conheço de cor alguns dos seus poemas e A Mensagem, mas tenho, desde sempre, medo de escrever sobre gigantes como ele.

 

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Por mais dias que tenha a minha vida, jamais serão suficientes para conhecer-lhe todo o sangue que lhe corria na alma e no corpo.

 

Este sábado, 25 de fevereiro, associei-me ao Roteiro dedicado ao poeta, promovido pela Lycos – Associação para o Desenvolvimento da Excelência

 

“Lisboa pela pena e pelos passos de Pessoa”, assim se designou a viagem, conduzida pela professora Maria João Carvalho. Sete momentos e sete paragens que simbolizaram a sua vida e que todos vocês podem fazer. Não custa nada e é de uma riqueza intemporal que não se perde, que não se esgota, que nos assola. 

 

Ao contrário do que é habitual, começámos pelo fim cronológico da vida de Fernando Pessoa (no leito da sua morte, a 30 de novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos Franceses, na Rua do Loreto) e terminamos no seu nascimento, a 13 de junho de 1888 (no n.º 4 do Largo de São Carlos).

 

Do Bairro Alto até ao São Carlos, percorremos, entre a calçada da Baixa e milhares de turistas que invadem Lisboa todos os dias, os caminhos do poeta. Na Praça Luís de Camões a paragem serviu para lembrar a mítica e aclamada A Mensagem (cujo Quinto Império é desde sempre a minha parte favorita):

 

“Grécia, Roma, Cristandade,

Europa — os quatro se vão

Para onde vai toda idade.

Quem vem viver a verdade

Que morreu D. Sebastião?”

 

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Foi ali junto à estátua de Camões que recordei uma das facetas de Pessoa menos abordada, seja nas escolas ou na sociedade civil: as suas famosas cartas astrológicas

 

Fernando Pessoa fez cartas astrológicas dos seus heterónimos e de inúmeras personalidades portuguesas e mundiais. Um lado que acompanha a obra pessoana e que está presente não só em muita da sua correspondência como também da sua obra. A este propósito, e para os que tenham interesse, recomendamos a obra "Cartas Astrológicas de Fernando Pessoa", editado por Paulo Cardoso e Jerónimo Pizarro. 

 

Passando pela hoje tão turística A Brasileira, ao Chiado, recordamos a convivência do poeta com os amigos, com destaque para a correspondência com o amigo Sá-Carneiro.

 

«Quero ignorado, e calmo

Por ignorado, e próprio

Por calmo, encher meus dias

De não querer mais deles.

Aos que a riqueza toca

O ouro irrita a pele.

Aos que a fama bafeja

Embacia-se a vida.

Aos que a felicidade

É sol, virá a noite.

Mas ao que nada espera

Tudo que vem é grato»

Ricardo Reis

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Descendo à Baixa, e por entre sonhos e memórias da obra de Pessoa, fomos encontrar, na Rua de São Julião a antiga firma Xavier Pinto&C.ª, o local marcante onde Pessoa recebeu, com muita dor, a notícia do suicídio do seu querido amigo Mário de Sá Carneiro, em Paris. Corria o ano de 1916.

 

No Martinho da Arcada, à Praça do Comércio, um café com o bulício de um sábado de carnaval, recordando o lado tão bom – boémio e saudosista – de Fernando Pessoa. Aqui, naquela mesa lá ao canto, muita escrita havia de sair, muitas noites de copos haviam de ficar escritas. Muitas sombras também haviam de o povoar, mais para o fim da vida, e quando o dinheiro lhe fazia tanta falta. 

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 Parece sempre redutor tudo quanto escrevemos e falamos do poeta maior do século XX português. E mesmo depois de acabarmos a tarde no Largo de São Carlos, onde Fernando Pessoa nasceu, sentimo-nos despidos, sempre com sede se saber mais e mais da sua vida.

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Por entre os dedos da sua efémera vida (faleceu aos 47), recordamos histórias daquele que foi o seu conhecido e único grande amor: Ofélia Queiroz. A sua correspondência com Pessoa é das coisas mais fantásticas que a obra pessoana deixa. Sugerimos a esse propósito as seguintes obras:

 

- Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz – Correspondência amorosa completa. Apresentação: Richard Zenith. Editora Capivara, 2013.

- Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz. Edição de Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2012.

 

«Que inquietação profunda, 

que desejo de outras coisas, 

que nem são países, nem momentos, 

nem vidas»

Álvaro de Campos

 

Esta é apenas uma partilha da obra e vida infinita de Fernando Pessoa. E este é apenas um Roteiro que sugerimos a todos. Contudo, a sua obra e vida é inesgotável. Deixamos, por isso, algumas fontes onde podem recorrer, para quem se interessa pelo tema:

 

Arquivo Pessoa

- Casa Fernando Pessoa

- Roteiro Pessoano mais completo

 

E como Pessoa nos surpreende a toda a hora, recomendamos ainda a Carta da Corcunda ao Serralheiro, uma prosa maravilhosa, da autoria do único heterónimo feminino conhecido (Maria José), aqui lida por Maria do Céu Guerra. 

 

Nota: Agradecimentos ao Luís Bettencourt, Mário Moura e à professora Maria João Carvalho, que tão bem nos guiou nesta tarde inesquecível. 

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Foto de grupo, no Largo de São Carlos, no final do Roteiro. Foto: Direitos Reservados. 

 

 Para ler também aqui.