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Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

Mercado da Ribeira: um ponto de encontro na capital

Com 132 anos de existência, o Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré, ganhou, há poucos anos, uma nova vida, com um espaço de 30 quiosques de restauração e produtos tradicionais, paredes meias com as bancas de frutas e legumes. Hoje convidamo-lo a visitar o mercado através de imagens que retratam a vida que aqui floresce nos últimos anos. 

 

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«A Mimosa da Lapa»: petiscos, concertos e tertúlias

«Mercearia, Bicicletas e Cultura». É este o conceito da Mercearia Mimosa da Lapa (Lisboa) que prossegue o sonho de Adão Dantas que fundou o espaço em 1932. Depois de quase 15 anos de portas fechadas, reabriu ao público em Dezembro de 2012, e assume-se hoje como a montra dos melhores produtos tradicionais portugueses. Petiscos, concertos, tertúlias e o gosto por bicicletas são outras vertentes da Mercearia que voltou a animar a Lapa.

 

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É no «velhinho» e turístico Elétrico 25-E (que percorre os carris lisboetas desde o início do século XX) que chegamos à Lapa. A escolha revelou-se a melhor para chegar ao n.º 92-96 da Rua da Bela Vista à Lapa.

 

O destino do 25 é Campo de Ourique mas saímos um pouco antes, na Rua Buenos Aires à Lapa, depois de embarcarmos cá em baixo, no Bairro de Santos, e enfrentarmos ruas e ruelas íngremes sobre carris.

 

A uns metros da Buenos Aires há uma Mercearia que faz jus à história do bairro, e acompanha, de certa forma, a mesma narrativa que caracteriza o elétrico que nos leva até à Lapa.

 

Na rua da Bela Vista impera a calma e a tranquilidade. São onze da manhã. «Ao final do dia, o rebuliço é maior, quando terminam as aulas nas escolas aqui perto», afirma Júlio Costa, colaborador da Mercearia A Mimosa da Lapa.

 

Quando se entra na loja, a visão assemelha-se à bobina de uma cassete antiga que nos faz recuar aos anos 30 do século passado. O balcão da Mercearia mantém-se intacto, de pedra mármore, o chão é de azulejo hidráulico e toda a loja mantém a traça antiga. 

 

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«A loja mantém-se o mais fidedigna possível, os móveis também são os mesmos, fizemos pequenas reparações que eram essenciais», explica o nosso interlocutor.

 

A única alteração foi a ampliação do espaço. Nas traseiras da loja, onde antes existia um armazém, há agora uma sala de exposições, concertos e petiscos, que os gerentes da Mercearia Mimosa organizam com frequência.

 

A Mercearia reabriu portas a 11 de dezembro de 2012 pela mão de três amigos que «tinham em comum o gosto pela cultura e bicicletas» e que aliaram os dois conceitos ao negócio dos produtos tradicionais mantendo «a identidade da casa», lançada por Adão Dantas em 1932.

 

Os produtos tradicionais portugueses são «a marca e a essência» da casa. Do Douro ao Alentejo, passando pelas Beiras e acabando nos Açores, não faltam aqui todos os bens essenciais a qualquer família portuguesa.

 

Desde os azeites (incluindo biológicos) às compotas (de morango, pêra com noz e figo), mel e marmelada, rebuçados de ovo de Portalegre, queijos, conservas, pão e enchidos, são muitos os produtos e marcas regionais que povoam «A Mimosa da Lapa».

 

Mas os vinhos, a cerveja artesanal, os chás dos Açores, a flor de sal e as ervas aromáticas também não são esquecidos e têm lugar de destaque nesta montra tradicional portuguesa.

 

Num dos balcões exibe-se ainda o tão conhecido sabão azul, vendido à fatia, e tão usado noutros tempos. Na área da higiene pessoal também há sabonetes, água-de-colónia e espumas de barbear.

 

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O objetivo, vinca Júlio Costa, passa pela aposta no «pequeno produtor, para fugir às marcas que existem nas grandes superfícies e ajudar também o Interior a escoar o melhor que produz».  

 

Cultura e petiscos

 

Outra das valências da casa é a iniciativa que junta às quintas-feiras, sextas e sábados, artistas plásticos, concertos, tertúlias e petiscos em torno de um «conceito muito próprio».

 

«Uma ideia de origem que queríamos aplicar na Mercearia, sendo que além de querermos chegar a toda a gente, é também outra forma de divulgar o espaço», salienta Júlio Costa.

 

Iniciativas que decorrem na sala que outrora servia de armazém e cujas marcas desse tempo ainda estão bem patentes na sala. «Trata-se de um espaço que, no século passado, era também o local onde pernoitavam os rapazes que entregavam os cabazes dos produtos à Mercearia Fina de Adão Dantas e que, à época, servia toda a cidade. Esses rapazes, que vinham do Interior, dormiam aqui sendo que ainda se podem ver os ganchos dos beliches na parede», recorda o responsável que conta que, recentemente, um desses rapazes, hoje homem, ali se deslocou quando soube da reabertura da loja para «reavivar essas memórias».

 

Hoje o espaço serve de montra de exposições, de petiscos e de concertos, como já foi dito.

 

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 A um canto, meia dúzia de bicicletas (antigas pasteleiras, como são conhecidas) alinham-se em harmonia, à espera de recuperação. «Uma das outras ideias que temos é o negócio da venda e aluguer de bicicletas», uma iniciativa que decorre do gosto partilhado pelos impulsionadores da renovada Mercearia.

 

«No fundo, é uma espécie de fomento deste gosto, onde os ciclistas podem vir, petiscar e descontrair. A juntar a esta vertente temos também patente alguns exemplares de um jovem criador de Aveiro que produz roupa para ciclistas e que é mais uma oferta à vertente das bicicletas que queremos aprofundar», afirma.

Algarve: a paciente cozinha do Sul

No barrocal algarvio cozinha-se sem pressas. De Alcoutim a São de Brás de Alportel, a gastronomia com ares de Mediterrâneo domina nas mesas dos restaurantes. Não faltam, também, sabores do rio e as famosas feijoadas e ensopados, que, outrora, eram alimento de sustento das gentes serranas para enfrentar cada jornada. Convidamo-lo a descobrir a paciente cozinha do Sul.

 

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Isabel Ribeiro, proprietária do restaurante «Cantarinha do Guadiana» (no Monte das Laranjeiras, em Alcoutim), uma antiga casa de pasto, confeciona há dez anos pratos regionais com sabor a barrocal. Aqui dominam os pratos do rio, ou não corresse o Guadiana mesmo à porta.

 

Isabel é também a cozinheira do espaço que gere nesta localidade raiana e explica que, aqui, a gastronomia local varia consoante a época do ano. Na primavera dominam as sopas de tomate, as ovas de saboga, as sopas do rio ou os ovos fritos com tomate. No verão é tempo dos peixes do rio que saem da grelha para a mesa, entre eles, o robalo, o linguado e a corvina.

 

Já no outono é tempo de os pratos de caça serem reis, com o coelho e a perdiz a serem os eleitos da época. Já no inverno chegam os pratos de porco.

 

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Depois há os pratos típicos da cozinha serrana que saem da cozinha de Isabel o ano inteiro: os cozidos, as feijoadas, as cabidelas e as célebres migas.

 

Já na doçaria são as receitas de alfarroba, amêndoa, figo e mel que prevalecem. «Tudo porque são os produtos locais que mais abundam por aqui», enfatiza Isabel.

 

Manter a tradição da confeção «é o segredo», diz a proprietária que critica as portagens na A22 (Via do Infante), que lhe roubaram muitos clientes. 

 

A cozinha do interior algarvio é toda ela centrada nos produtos endógenos, «algo que faz do negócio uma mais-valia local», considera também a Dona Martinha (como faz questão de ser tratada), do restaurante Adega Nunes, no Sítio dos Machados, em São Brás de Alportel.

 

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O espaço, onde outrora funcionou uma antiga adega, está povoado de objetos decorativos e utensílios tradicionais que transportam quem aqui entra para as tradições algarvias da agricultura e da serra.

 

Há 20 anos que aqui se come «comida caseira, tal como faziam as nossas avós no passado», afiança Dona Martinha.

 

A base é a «tradicional cozinha mediterrânica» e na ementa há pratos para todos os gostos. Desde massinha de peixe, jantar de grão, jantar de feijão, feijoada, coelho, porco, ensopado de borrego, pratos de cabidela ou javali.

 

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Sabores que «os portugueses adoram» e que «surpreendem os turistas, pouco habituados a este tipo de cozinha».

 

«Aqui cozinha-se como antigamente, sem pressas. Comecei a cozinhar, incentivada pela minha mãe, e há receitas que só resultam se mantivermos o segredo», conta Dona Martinha.

 

Os doces são, à semelhança da «Cantarinha do Guadiana», confecionados à base de amêndoa, alfarroba e figo.

 

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Por fim, visitamos o «Lagar da Mesquita» (na freguesia de Fonte da Mesquita, São Brás de Alportel). Depois de sete anos encerrado, o restaurante reabriu há oito meses. Aqui domina igualmente a cozinha mediterrânica (pratos de carne mas também as açordas e migas) num espaço onde funcionou um antigo lagar de azeite.