Plangaio: descubra uma especialidade gastronómica única
É um enchido mas não tem a forma característica das chouriças ou dos paios, feito com massa de farinheira mas os ossos dão-lhe um paladar diferente. Tradicionalmente é cozido e servido com couves mas a sua versatilidade permite ser preparado de outras formas e assume-se como uma especialidade de algumas localidades do concelho de Proença-a-Nova, mas foi conquistando o seu espaço e hoje assume-se como um produto gastronómico cada vez mais apreciado e procurado.
Texto: Câmara de Proença-a-Nova
Assim é o plangaio, um enchido tradicional feito com a massa da farinheira mas à qual se juntam os ossos do espinhaço do porco. De acordo com uma recolha efetuada há alguns anos, o plangaio é quase exclusivo das freguesias de Sobreira Formosa, Montes da Senhora e Alvito da Beira, no concelho de Proença-a-Nova, sendo também feito na Isna de Oleiros e em Fonte Longa – Sarzedas, ainda que neste último caso tenha um nome diferente. No entanto, o contacto entre famílias levou a que a tradição do plangaio ultrapassasse a ribeira do Vale D’Urso, sendo feito em outras localidades do concelho mas sem a expressão que conhece nas aldeias mais a norte em que era presença obrigatória em qualquer fumeiro.
Uma das razões que explica a aceitação do plangaio prende-se com o facto de que tudo no porco se aproveitar para comer, incentivando à criação de produtos diferentes utilizando os mesmos ingredientes: o plangaio permite rentabilizar os ossos do porco, criando um enchido mais rico que a farinheira. Essa massa é colocada na bexiga do porco ou na pele do entrecosto, em pequenas bolsas individuais pouco maiores que uma bola de ténis. Tal como os restantes enchidos, também o plangaio é fumado, estando pronto a ser consumido por alturas do carnaval: a receita era simples e aproveitava uma das hortícolas que predomina nas hortas nessa época do ano. As couves eram normalmente cozidas na mesma água em que se cozia o plangaio para assim aproveitar ainda mais o seu sabor. Havendo uma menor quantidade de plangaios, estes eram essencialmente servidos em dias de festa.
Atualmente, qualquer época do ano é boa para se comer o plangaio, até pelas diferentes formas como pode ser servido. Carlos Alves, da Associação de Divulgação Cultural de Sobreira Formosa, apresenta algumas dessas variações: “no Passeio de Automóveis Antigos oferecemos o plangaio que, depois de cozido, é cortado ao meio e levado a tostar no forno, o que vai retirar mais alguma gordura que tenha e a própria farinha acaba por ficar crocante. Se em cima acrescentarmos uma rodela de cebola fica ainda melhor e dá para fazer umas tostas espetaculares. O meu filho inventou uma entrada fantástica que é feita em massa folhada com plangaio e maça reineta. Nestes casos, é preciso separar os ossos com os quais se pode fazer uma sopa com feijão branco e couve”.
Para além do plangaio, existem igualmente outras receitas menos conhecidas de enchidos e petiscos confecionados com a carne de porco. É o caso do bucho de arroz: “no fim de contas é um maranho com carne de porco, mas leva coloral e a hortelã”, explica Carlos Alves. Este bucho de arroz é cheio no estômago do porco. Em algumas localidades do concelho é também costume aproveitar os restos da massa da farinheira para fazer cadarrapos, juntando ovos e farinha de trigo à massa, consoante a consistência que se pretenda. Depois este preparado é frito, seguindo o mesmo modo de fritar das pataniscas de bacalhau.
O plangaio vai estar em destaque na edição deste ano da Feira de Outono – Festival do Plangaio. Durante o evento, a decorrer em Sobreira Formosa nos dias 24 e 25 de setembro, vão ser dinamizadas sessões de cozinha ao vivo apresentando alternativas à forma tradicional de cozinhar o plangaio, mantendo o paladar que lhe é característico.