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Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

«Flor de Aveiro»: sabores conventuais com «identidade» adoçam a cidade da Ria

Ovos-moles, castanhas de ovos, bolo-rei ou o morgado do Buçaco. Estes são apenas alguns dos doces conventuais produzidos pela padaria e pastelaria «Flor de Aveiro», na cidade da Ria. O responsável Pedro Santos refere que «é fundamental manter a qualidade das matérias-primas e criar sabores com identidade». «Só assim temos a garantia de que a tradição secular doceira se mantém fiel às origens», considera.

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A empresa de Pedro Santos, que abraçou o projeto há 14 anos, produz «essencialmente doces conventuais e tradicionais da região de Aveiro».

 

Ovos-moles, castanhas de ovos, bolo-rei ou o morgado do Buçaco são algumas das delícias conventuais produzidas na casa.

 

«O sucesso do nosso negócio incide unicamente num ponto: a qualidade das matérias-primas que utilizamos. Tudo produtos nacionais e fiéis às receitas originais», salienta, acrescentando que «só assim é possível ter um produto de excelência».

 

Prova disso, revela Pedro Santos, é o reconhecimento que os seus doces têm tido nos últimos anos.

 

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O responsável considera importante «manter as tradições gastronómicas locais» e considera «ser fundamental para manter as raízes intactas».

 

«Além disso, é uma mais-valia para a economia regional, já que está provado que a gastronomia é um fator muito importante de atração turística», afirma.

 

Pedro Santos fala ainda da crise económica referindo que esta «não tem sido muito sentida no negócio» e explica porquê: «tivemos que dar a volta por cima, apostar na qualidade. Percebemos que com isso a crise económica que o país atravessa é, muitas vezes, psicológica. Se lutarmos por ter produtos com selo de qualidade, vencemos. Com muito sacrifício, mas é possível».

 

Para já a empresa dedica-se à venda de doces conventuais na loja que tem na Rua de São Bernardo, na cidade de Aveiro, e onde tem igualmente uma valência de padaria.

 

O escoamento do produto, além das fronteiras regionais, estende-se, para já ao canal de distribuição nacional, fazendo chegar a todo o país os ovos-moles e as castanhas de ovos.

 

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Quanto à exportação, a Flor de Aveiro, está neste momento a trabalhar numa «estratégia de negócio que permita começar a exportar, o mais brevemente possível, para toda a Europa».

Lourinhã é palco de um "Passeio com História"

A vila da Lourinhã acolhe, no dia 14 de agosto, a segunda iniciativa do Ciclo de Passeios com História. Trata-se do passeio pedestre noturno “Lourinhã – Irmandades e Confrarias”, que segue um itinerário pelas Confrarias e Irmandades Religiosas das igrejas da vila da Lourinhã - Nossa Senhora dos Anjos, S. Sebastião, Misericórdia e Nossa Senhora da Anunciação. 

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O Centro de Estudos Históricos da Lourinhã (CEHL) vai, uma vez mais, desvendar a história destas organizações, essenciais na propagação e vivência da fé em comunidade. Neste âmbito há ainda a salientar o apoio da Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação, uma “confraria” que tem como objetivo a divulgação da Aguardente DOC Lourinhã.

 

A organização do Ciclo de Passeios com História é partilhada pelo município da Lourinhã e Centro de Estudos Históricos da Lourinhã, contando neste passeio com o apoio da Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação.

Olivença - Na outra margem do Guadiana ainda há esperança para o português oliventino

Em Olivença o tempo não apagou a marca portuguesa de séculos nos monumentos, na história, nos costumes, nas palavras e nas cantigas. Na localidade raiana, situada do outro lado do Guadiana, há projetos de recuperação do português oliventino e de marcas etnográficas que ainda resistem.  

 

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Eduardo Naharro é professor de Português em Olivença. Nasceu em Elvas mas mudou-se para o outro lado do Guadiana há muitos anos. Pisou terras oliventinas ainda jovem, aos 17 anos, quando, juntamente com os amigos, se deslocou à localidade raiana. Foi numa dessas viagens que conheceu aquela que viria a ser a sua esposa. Diz, com orgulho, que em Elvas é conhecido por «Eduardo, o espanhol» e em Olivença, «Eduardo, o português».

 

«Tenho as duas nacionalidades, por opção. E vivo as duas culturas através da Língua. Quando falo português, considero-me português e vice-versa. Tenho duas nacionalidades e não dupla nacionalidade», faz questão de dizer.

 

Antes de enveredar pelo ensino Eduardo trabalhava como despachante, primeiro nos despachantes portugueses, depois nos espanhóis, mas com a livre circulação de passageiros e mercadorias teve de «mudar de vida».

 

A Língua Portuguesa «é ponto de honra» para si e garante uma das marcas que «liga cada vez mais Portugal e Espanha é a língua». O professor de Português refere-se em concreto ao português oliventino ou português de Olivença, como também é conhecido.

 

Apesar do oliventino correr o risco de extinção, o docente na Universidade Popular de Olivença, recorda que se trata de um subdialecto falado em Olivença e em Táliga [município espanhol que pertence à Província de Badajoz], pela sua pertença, durante séculos [de 1297 a 1801] ao reino de Portugal.

 

«As crianças já não falam em português desde meados do século XX, o que faz com que a Língua Portuguesa de Olivença tenha vindo a desaparecer», explica.

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Eduardo Naharro diz que algumas características do português oliventino são «as mesmas que as do dialecto alentejano, com superstrato espanhol, nomeadamente estremenho, não castelhano».

 

Olivença e Táliga sofrem, pois, «uma progressiva espanholização», pelo que o espanhol, nomeadamente o dialecto estremenho, substitui a Língua Portuguesa. Já a região oliventina foi, até 1940, bilingue, com maioria lusófona.

 

«Todavia, a geração da época começou a usar com os filhos o espanhol. No século XXI, o português oliventino quase desapareceu, já que as crianças não o falam desde a década de 50 do século passado», frisa.

 

Hoje o português estuda-se na escola, mas como «língua estrangeira», sendo que só o falam pessoas nascidas antes dos anos 50. Apesar de tudo, conta Eduardo, «há cada vez mais jovens interessados em sabê-lo e que o aprendem como segunda língua».

 

Eduardo Naharro conta que a Junta de Estremadura apostou há muitos anos numa aproximação a Portugal, através de relações institucionais, no sentido de «insistir no estudo da Língua Portuguesa».

 

Explica que na Estremadura espanhola há uma rede de universidades populares onde são lecionados cursos e que permitem às pessoas «não só aprenderem português como a cultura portuguesa».

 

Estes cursos, lecionados desde 1995, e financiados através de fundos comunitários. «Desde essa altura foram leccionados cerca de cem cursos por toda a região».

 

Só na Universidade Popular de Badajoz são leccionados atualmente sete cursos, bem como na Universidade Popular de Olivença, instituições de ensino onde Eduardo dá aulas.

 

Língua aproxima os dois países:

 

«Sempre disse que a identidade de uma pessoa não tem nada a ver com o Bilhete de Identidade mas com as raízes e a cultura», defende o professor de Português, considerando que «é a língua é que aproxima os dois países».

 

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«Através dela conseguimos transmitir a cultura, a história e costumes».

 

Para continuar o trabalho em torno da preservação da Língua Portuguesa em Olivença, Eduardo está a trabalhar também num projeto da compilação do português oliventino, através de um convénio assinado entre a Associação Além Guadiana e a Universidade da Estremadura. «O objetivo passa depois por fazer o estudo de investigação do português oliventino», informa.

 

Eduardo, que dá aulas atualmente apenas a adultos, refere que «é fundamental dar a conhecer também um outro Portugal. Mostrar a História, a cultura, a paisagem, a gastronomia e sobretudo nas zonas mais desconhecidas do país e que muitos desconhecem».

 

Com a Além Guadiana, refere, «há um esforço de preservar a Língua Portuguesa em Olivença». Contudo, ressalva: «temos de dividir várias questões. Uma é o português oliventino e o português padrão, que se deveria lecionar. O Português oliventino teve uma rutura geracional pelos motivos que sabemos. Mas queremos recuperá-lo para que fique registado, que existiu, que é um subdialecto do Alentejo oriental, e é invadido por uma castelhenização. É a preservação desses vocábulos, oliventinos, que nem são portugueses nem castelhanos, um presente em cantigas, em livros, em registos, que queremos manter».

 

Através da Língua, sublinha, «queremos também recuperar a parte etnográfica porque o oliventino não conhece sequer a sua própria História». «Mas queremos ainda aprofundar mais. E que as pessoas se sintam orgulhosas da sua própria cultura e dos seus antepassados».

 

Neste trabalho de preservação, «a maior dificuldade é ter acesso às pessoas e que elas nos abram a porta», tudo, realça, porque a maioria são idosas». Mas é um trabalho «urgente, porque essas pessoas estão em fim de vida».

 

Outra das apostas da Além Guadiana é trabalhar com crianças, refere o também colaborador da associação. Uma das ideias para suscitar o interesse dos mais novos para a Língua é precisamente a edição de um livro de banda desenhada, «onde o português oliventino possa aparecer bem como as expressões e vocábulos de maior uso, para que perdurem no tempo».

 

A cultura portuguesa

 

Para Eduardo Naharro «a cultura está acima das discrepâncias» e lembra que «o problema de Olivença sempre foi gerido ou do ponto de vista político ou territorial». «Interessa Olivença? Porquê? Como? Em que situação? Olivença é uma criança que tem duas mães: uma biológica e outra adotiva. Supostamente, a biológica é Portugal e a outra Espanha. Mas, na verdade, uma cultura sem a outra não tem sentido. E é fundamental que se conheça Olivença em Portugal».

 

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O professor salienta que «os próprios oliventinos não conhecem a sua própria história» e «há uma cultura que se tem de recuperar em Olivença e é preciso explicar às pessoas o porquê de se pretender recuperá-la».

 

Sobre o papel do Estado português na promoção da língua e cultura portuguesas em Olivença, Eduardo recorda que este «pouco tem feito», deixando uma pergunta no ar: «porque é que o Estado português reivindica um território se não há cultura?».

 

Recorde-se que a associação Além Guadiana (cultura portuguesa em Olivença) nasceu em 2008 e tem trabalhado na defesa do português local e na recuperação da língua portuguesa em Olivença.