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Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

Portugal à Lupa

Há 13 anos a calcorrear o País como jornalista, percebi há muito que não valorizamos, como devíamos, o que é nosso. Este é um espaço que valoriza Portugal e o melhor que somos enquanto Povo.

Castelo de Lanhoso acolhe mercado medieval

Neste fim-de-semana de 16 e 17 de julho, o Castelo de Lanhoso irá abrir uma janela para o passado, com a recriação de um Mercado Medieval na sua praça de armas. Ao entrar nas muralhas do castelo, o visitante irá mergulhar num cenário que pretende levá-lo numa viagem através do tempo.

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«O Município da Póvoa de Lanhoso tem como objetivo potenciar os monumentos concelhios e o Castelo de Lanhoso, sendo um dos ex-libris, não foge à regra. Os artesãos concelhios estarão presentes em força e temos como fim proporcionar aos povoenses um fim-se-semana diferente, num local histórico onde serão revividas tradições medievais», refere o Vereador do Turismo da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, André Rodrigues.

 

Artes e ofícios tradicionais, com as técnicas de então, serão executadas por verdadeiros artesãos e artífices. Ferreiro, cesteiro, carpinteiro e artesão de pedra, ao lado de lavradores e camponesas, darão vida a um cenário medieval, que acima de tudo «se espera recrie o quotidiano que havia nesta e noutras praças medievais», vinca a câmara.

 

Esta iniciativa está incluída nas comemorações dos 20 anos do Núcleo Museológico do Castelo de Lanhoso e conta com a participação de grupos, associações, empresas e outras coletividades locais que contribuíram positivamente na organização deste evento.

Belmonte: a vila que deu ao mundo Pedro Álvares Cabral

Situada numa das encostas da Serra da Estrela e com o rio Zêzere a seus pés, nesta vila da Beira Interior, berço do navegador Pedro Álvares Cabral, a vida corre lenta, sendo apenas interrompida pelos grupos de turistas que animam as praças e ruelas. Subimos ao castelo, visitámos os museus e as igrejas e fomos conhecer a antiga Judiaria e actual Sinagoga, símbolos maiores da comunidade judaica na região.

 

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Fotos: Ana Clara

 

Em Belmonte, vila da Beira Interior que integra a Rede das Aldeias Históricas de Portugal, e que remonta ao século XII, quando D. Sancho I lhe concedeu o foral, há, como em muitas cidades e vilas portuguesas, uma avenida, considerada ponto central que orienta o turista para a restante localidade.

 

No caso de Belmonte, é a Rua Pedro Álvares Cabral que cumpre este papel, e onde se situa a maior parte dos serviços da vila, como a Câmara Municipal, agências bancárias, e algumas lojas e cafés. Tal não seria difícil de perceber já que foi aqui que nasceu, em 1467, o navegador Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil em 1500. Em sua homenagem, é nesta rua que está situado o Museu dos Descobrimentos, situado no antigo Solar dos Cabrais, dedicado precisamente a este período da história portuguesa.

 

Ao percorrer as ruas e praças da vila, percebe-se que o navegador português é lembrado em quase todo o lado, havendo igualmente uma estátua em sua memória, de granito e bronze, situada no Largo Dr. António José de Almeida. «A nossa terra é mais conhecida pelo Pedro Álvares Cabral». Quem o atesta é Maria Teixeira, que está à janela da sua casa térrea, mais à frente, na Rua 25 de Abril.

 

«Temos até um Museu dos Descobrimentos, sabia?», questiona Maria, dizendo que «são os turistas» que atualmente «trazem vida e animação à vila». «Faz-nos falta muito trabalho, porque fecharam as principais fábricas que tínhamos», lamenta.

 

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Aos 72 anos, a idosa resume em minutos o filme da sua vida que classifica como tendo sido «de tormentas». Nascida e criada em Belmonte, ali casou, tendo trabalhado «a vida inteira» na empresa de confeções Cilvet, que entretanto faliu, «e que deixou muita gente no desemprego», lembra Maria, em tom de tristeza.

 

Para compensar a ausência de oportunidades de trabalho, afirma que «apesar de os turistas chegarem à vila com a carteira cada vez mais vazia» ainda são eles «que vão entretendo os que por cá moram». «Mas aqui as pessoas podem viajar nas memórias do tempo, temos imensos museus, o castelo e depois os judeus, que fazem parte também da terra», sublinha.  

 

O castelo e a Igreja de São Tiago

 

Prosseguimos viagem rumo ao castelo de Belmonte, construído por D. Sancho I no século XIII. Símbolo defensivo da Reconquista portuguesa, está também intimamente ligado aos Descobrimentos, já que foi residência da família de Pedro Álvares Cabral até aos finais do século XVII. Subimos à Torre de Menagem. O dia está ventoso mas, ainda assim, permite apreciar a vista. Ao longe, avista-se o vale por onde corre o rio Zêzere e, à volta, a paisagem em tons de verde que se apresenta como um verdadeiro postal turístico da Beira Interior. O silêncio, esse, é apenas interrompido pelo sopro intenso do vento do dia.

 

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Ao percorrermos o castelo, são visíveis as várias transformações efetuadas no pano da muralha oeste, com a construção de várias janelas panorâmicas, destacando-se uma janela de estilo manuelino, da primeira metade do século XVI. Atualmente o edifício tem funções turísticas e culturais, tendo sido construído um anfiteatro ao ar livre e uma sala oitocentista transformados em espaços museológicos dedicados à história do concelho e do castelo.

 

Perto do Castelo situa-se a capela de Santo António, mandada edificar pela mãe de Pedro Álvares Cabral, D. Isabel Gouveia, no século XV. Segue-se a próxima paragem, um pouco mais abaixo: a Igreja de São Tiago e Panteão dos Cabrais, um monumento de traço românico, que sofreu modificações ao longo dos tempos, apresentando também alguns elementos góticos e maneiristas, como nos explica a técnica do espaço.

 

Naquele dia de abril, são muitos os turistas que entram e saem da Igreja, e a responsável está atarefada, não parando um segundo para responder às dúvidas dos curiosos. Porém, conta-nos que não há certezas da data de construção deste templo, «tendo talvez sido construído em 1240».

 

No seu interior destaca-se, entre muitos elementos, uma Pietá, talhada numa única peça de granito da região e pode ainda observar-se o altar-mor, decorado com frescos do século XVI, representando Nossa Senhora, São Tiago e São Pedro, «que muitos dizem ser uma representação de Pedro Álvares Cabral», explica a técnica.

 

Situada num dos caminhos portugueses de peregrinação a Compostela, a Igreja de São Tiago seria também um local onde os peregrinos «encontravam um conforto espiritual no decurso da sua jornada».

 

Adossado à Igreja está o Panteão dos Cabrais, construído em 1483. A renovação deste deve-se a Francisco Cabral, primeiro alcaide de Belmonte após a Restauração, tal como a ele se devem alguns túmulos renascentistas ali existentes datados de 1630, como explica o painel informativo à entrada do espaço.

 

A força da comunidade judaica

 

Mais à frente, na Rua da Fonte da Rosa, encontramos a sinagoga de Belmonte, símbolo que comprova a existência de uma comunidade judaica viva na vila. Em Belmonte, uma comunidade de judeus está referenciada desde o século XIII, testemunhada pelo achado de uma epígrafe e datada de 1297. A presença de judeus na vila não é um facto isolado no caso de Belmonte, tendo-se conhecimento da existência de outras judiarias nas cidades, vilas e aldeias da região.

 

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Com a expulsão de judeus decretada por D. Manuel em 1496 e, posteriormente, com a instauração da Inquisição, muitos judeus abandonaram a vila, e os que ficaram professavam a sua religião em segredo.

 

Atualmente a comunidade judaica de Belmonte, que oficialmente existe desde 1988, tem uma sinagoga nova e um cemitério próprio. A sinagoga foi inaugurada em 1996, encontrando-se orientada para Jerusalém e tem o nome de Bet Heliahu, em homenagem ao judeu benemérito que ordenou a sua construção. «Acredita-se que é a última comunidade de origem cripto-judaica a sobreviver, enquanto tal, em toda a Europa», lê-se no documento informativo que nos disponibilizam na autarquia de Belmonte.

 

Daqui, rumamos à antiga Judiaria, estando organizada em torno das atuais rua Direita e Rua Fonte da Rosa. As estrelas de David nos portões, os castiçais na porta e no gradeamento identificam este templo judaico. No exterior, descobrem-se pormenores como as várias caleiras que sobressaem das paredes recolhendo a água da chuva para o Mikvé (tanque interior onde se tomam os banhos da purificação).

 

«Os judeus eram sobretudo artesãos e comerciantes pelo que nas suas casas, o piso inferior estava destinado à oficina ou à loja, apresentando este, na maioria dos casos, duas portas. Nas ombreiras destas alguns motivos cruciformes são ainda visíveis», esclarece Graça Ribeiro, proprietária da casa de turismo em espaço rural Passado de Pedra, em Caria, freguesia do concelho de Belmonte, que nos acompanha na visita.

 

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No regresso, encontramos Ana Maria, que vive numa rua ali mesmo junto da antiga Judiaria. Metemos conversa com esta mulher de 54 anos, sentada à porta de casa, e atualmente na pré-reforma, e que passa os dias a trabalhar na horta que cultiva uns metros mais abaixo. A «falta de saúde», diz, «obrigou-me a sair da fábrica de confeções», outra das que na região foi à falência.

 

A vida por aqui «é calma», refere, sublinhando que «apenas os turistas vão dando cor a Belmonte». «Pode não acreditar, mas há dias em que são mais de seis e sete autocarros os que aqui chegam com turistas. É o que nos vale», refere, despedindo-se em seguida para ir «ver da panela do almoço» que tem ao lume.

 

A viagem a Belmonte começa a chegar ao fim. E, de regresso ao ponto de origem, à Rua Pedro Álvares Cabral, atravessamos o Largo Afonso Costa, onde nos sentamos junto a um banco de jardim para descansar as pernas. De repente descobrimos mais uma história de outro português que marcou a história da vila. Junto ao banco, há uma lápide que homenageia o músico José Afonso, que viveu em Belmonte com a avó paterna e um tio.

 

Graça Ribeiro, que ainda nos acompanha na visita por Belmonte, diz que a história que «se conta» é a de que terá sido aqui que Zeca Afonso viveu as suas primeiras paixões amorosas e as suas primeiras animosidades políticas em particular com o tio, que era chefe da Legião Portuguesa e Presidente da Câmara. «É uma vila recheada de história e surpresas esta», remata Graça Ribeiro.

Museu Natural da Eletricidade: em Seia, há um século, a luz brilhou na Estrela

Nas margens do rio Alva, a menos de uma dez quilómetros de Seia, situa-se o Museu Natural da Eletricidade. Na região, no início do século XX, os homens perceberam que a água, que caía sob a forma de «tapetes» de neve e películas de gelo, e que corria serra abaixo, podia ser aproveitada para gerar eletricidade. Visitamos o espaço, nas antigas instalações da Central Hidroelétrica da Senhora do Desterro. Esta, desde abril de 2011, funciona como espaço museológico.

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 Fotos: Ana Clara

Quando chegamos às antigas instalações da Central da Senhora do Desterro, a 800 metros de altura, na serra, a paisagem que se nos depara revela bem a força da montanha e as potencialidades que, há muito anos, as populações dela retira.

 

Uma delas, bem visível, é a água, fonte de vida e sustento na região. Água que corre a «olho nu» na Mata do Desterro, zona natural protegida onde os caminhantes têm à disposição vários percursos pedestres. Água que, em cascata, corre incessantemente, seguindo o seu curso natural, e desce desde os pontos mais altos da serra até ao leito dos rios.

 

É aqui que encontramos o Museu Natural da Eletricidade de Seia, aberto deste abril de 2011. Uma mostra que conta a história secular de uma das mais antigas centrais de produção de energia do país: a Senhora do Desterro.

 

O Homem viu neste lugar uma oportunidade de desenvolvimento, cuja primeira pedra foi lançada em dezembro de 1909, dia em que a luz da Estrela brilhou pela primeira vez. «Homens que imaginaram que a força da água produziria eletricidade que havia de modernizar e desenvolver a região, a indústria dos lanifícios, as minas e a instalação de muitas outras indústrias». Palavras que escutamos na sala do rés-do-chão do edifício, onde passa um vídeo sobre a história deste lugar.

 

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«Divulgar o património tecnológico, natural, social e cultural desta central é um dos objetivos do espaço», conta João Marques, funcionário do Museu, que nos acompanha numa visita guiado.

 

Água, recorda o responsável, que «significava progresso» e que havia de produzir luz há mais de cem anos. Uma história que começa em 1907, com o início da construção da primeira central e, logo de seguida, com a constituição da Empresa Hidroelétrica Serra da Estrela. António Marques da Silva foi o industrial que impulsionou a exploração da energia elétrica nesta região fazendo com que Seia tivesse ficado inscrita nas páginas da história como uma das primeiras localidades do país a ter energia elétrica.

 

Primórdios

 

O espaço museológico ocupa o rés-do-chão e o primeiro andar do edifício. Logo à entrada, no rés-do-chão é possível conhecer, na Sala das Máquinas, quatro turbinas e geradores que, nos primórdios da Central, produziam eletricidade para toda a região serrana.

 

Para os amantes desta área está exposto um exemplar de um quadro elétrico, considerado uma referência para os técnicos eletrotécnicos.

 

Também aqui está patente, numa sala de exposições temporárias, várias fotografias de construção de barragens na serra, bem como de condutas e postes de eletricidade. É também possível aceder a um quiosque multimédia com depoimentos de antigos funcionários da central da Senhora do Desterro e que narram a centenária vida do espaço.

 

Subimos ao primeiro andar e percorremos várias salas dedicadas aos mais pequenos, onde os visitantes, miúdos mas também graúdos, podem experienciar acções relacionadas com a eletricidade.

 

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João Marques recorda que ao longo de 60 anos foi construído um sistema de centrais hidroelétricas em cascata, que percorrem entre 400 e 1600 metros, com os caudais no verão regulados com as águas da barragem da Lagoa Comprida, entre outras.

 

Contudo, foi em 1907, que se deu início à construção da Central da Senhora do Desterro, seguindo-se em 1919 a da Ponte de Jugais (na Guarda), a de Vila Cova, no concelho de Seia (1937) e mais tarde a do Sabugueiro, também no concelho de Seia. Todos estes aproveitamentos hídricos «revelaram-se essenciais para o desenvolvimento da eletrificação da região», vinca aquele funcionário.

 

A Central da Senhora do Desterro laborou até 1994, tendo o Museu sido inaugurado em abril de 2011, numa parceria entre a Câmara de Seia e a EDP.